Atenção: a entrevista a seguir pode conter cenas fortes para românticos inveterados. Nela, o psiquiatra Flávio Gikovate, 65, prevê o fim da noção atual do amor, que considera uma "imaturidade não resolvida nos seres humanos", e a vitória da individualidade.
Esse é o tema de seu novo livro, "Uma História de Amor...com Final Feliz". Trata-se, na verdade, de dois finais. Um deles aponta para um novo molde das relações afetivas: "O romantismo do século 21 não será mais essa idéia de fusão de duas metades, e sim a aproximação de dois inteiros. Uma coisa mais parecida com a amizade, com mais afinidade intelectual do que física". A outra opção de final feliz, diz, é a solidão -tão temida.
Esse sonho de fusão continua presente. Mas duas coisas modificaram esse ideal: a independência da mulher, desequilibrando a idéia de fusão com uma liderança masculina, e o avanço tecnológico, que criou condições extraordinárias para o entretenimento individual. Hoje, há uma briga muito mais ostensiva entre amor e individualidade.
De acordo com o doutor, a história é antiga. Para ele, o amor é o que sentimos por quem atenua nossa sensação de desamparo, e esse remédio varia conforme a época. No clã familiar, o aconchego vinha de muitas fontes. Quando os jovens saíram da área rural, foram afastados do clã. Então, homem e mulher criaram uma aliança intensa só entre eles. Esse amor romântico, que é possessivo, exigente, ciumento e complexo, andava mais ou menos bem até a 2ª Guerra Mundial.
O ponto revolucionário levantado por ele é de que o companheiro deve ser escolhido como se escolhem os amigos: pela afinidade intelectual. O individualismo resolve o dilema entre o egoísmo e a generosidade: é eu me entender como uma unidade e, se eu me sentir desamparado, resolver isso por mim mesmo, e não por meio do outro. Isso não significa não me relacionar, mas o outro deve ser escolhido por afinidade intelectual, como os amigos.
Assim, o livro dele tem dois finais: um é ficar sozinho; outro, bem-acompanhado. Ambos representam a vitória da individualidade. Posso jogar tênis sozinho ou em dupla. O que não posso é jogar com um parceiro desleal, ciumento e que queira mandar em mim.Ninguém aceitará gente querendo mandar. Isso não é ser egoísta. O egoísmo se caracteriza pela intolerância à frustração. O independente resolve agüentar suas dores. Além disso, hoje, o mundo é mais favorável a pessoas sozinhas.
Ou seja, o sonho de morrer sozinha morando com seu gato (de verdade ou não) mostra-
se como uma agradável opção nos dias de hoje! Além de econômica! Bem, pra mim, essa é a luz no fim do túnel.

Se quiserem, vejam a entrevista inteira aqui.
Um comentário:
Me apaixono por objetos.
Pelo menos sempre sou eu quem os descarta.
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