terça-feira, 29 de abril de 2008

12 neuroses



09:00
Vejo as pessoas andando. Tenho vontade de correr mais que elas para chegar primeiro a lugar nenhum.

10:00 Ternos escuros passeiam empinados de um lado para outro em vidros espelhados. Estão discutindo sobre tirar a azeitona da salada da cantina para economizar milhões.

11:00 A máquina de café trabalha a mil, a única dando duro por aqui. Todos buscam um pouco mais de açúcar para enganar o estômago e o chefe, esperando a hora do almoço.

12:00 Meu estômago está embrulhado, não tenho a menor vontade de comer. Quero sair correndo, descobrir que tenho asas e voar na direção do sol.

13:00 De volta para o computador. Checo o e-mail pela milésima vez, e me surpreendo quando realmente chega algum.

14:00 Percebo que a playlist acabou e estou escutando a conversa dos outros.

15:00 Viro pra um colega e esqueço o que ia falar. Pra tapar buraco, convido-o para tomar um café.

16:00 Mais uma reunião, mais folhas com rabiscos. Não tinha percebido aquelas rachaduras na parede.

17:00 O telefone toca. Todos fingem que não ouviram, esperando alguma alma incomodada puxar a ligação.

18:00 Vou para o terraço e vejo o pôr-do-sol enriquecido pela poluição da cidade. Quero riscar pelo menos esse item na minha lista de "coisas que deveria ter feito antes de virar um vegetal".

19:00 Penso em como as pessoas normais estão saindo do trabalho agora. Desejo que o metrô quebre e todas fiquem 40 minutos esperando na plataforma.

20:00 Desespero. Sinto-me claustrofóbica, mas não sei se o que me sufoca são as obrigações ou eu mesma.

21:00 Olho para o alto, a cidade não parece mais tão infinita. Talvez por isso, não tenho a mesma sensação de liberdade ao andar sem rumo. Agora estou só perdida.

Um comentário:

Cris Sato disse...

"19:00 Penso em como as pessoas normais estão saindo do trabalho agora. Desejo que o metrô quebre e todas fiquem 40 minutos esperando na plataforma"

Ainda bem que eu não pego metrô nesse horário :D